RAUL CAPITÃO: DA NOITE PRO DIA, A FORTUNA QUE TORNOU - LHE O CAPITÃO DO MINÉRIO POTIGUAR


A biografia de um agricultor potiguar que se tornou um dos homens mais ricos da história do Rio Grande do Norte. O senhor Raul Pereira da Silva, mais conhecido por "Raul Capitão", era a figura mais representativa do ciclo da scheelita na região de Lajes do Cabigi à São Tomé.

Raul Capitão iniciou a vida como empregado da fazenda Amarante, onde viveu por 18 anos. Ao sair, adquiriu nas proximidades a Fazenda Bonfim, onde fixou residência e ganhava a vida como agricultor.

Como sempre circulou a notícia de que nas terras do Bonfim havia minérios, em uma de suas buscas - para muitos em vão - encontrou uma pedra diferente, a pedra era a scheelita, minério que dá liga ao ferro no ano de 1967. O homem do campo não pensou duas vezes. Desviou o dinheiro da feira da família e foi para Natal saber se existia algum valor na descoberta. Daí em diante, a ascensão financeira se deu na velocidade da luz.

A pedra era a scheelita, minério que dá liga ao ferro. Foi bem na época de descobertas de minérios nas cidades de Lajes e Currais Novos. Novos ricos surgiram, mas, segundo contam, nenhum ficou tão famoso quanto o ex agricultor. Dizem que a média era de 45 toneladas do minério por semana que saíam de Lajes.

Em pouco tempo uma montanha incalculável de dinheiro caiu no colo de Raul, transformando o antigo agricultor de 55 anos em um dos homens mais ricos do Rio Grande do Norte. Ele passou a vender o minério para Alonso Bezerra, que era exportador. Ninguém da família consegue precisar quanto dinheiro Raul ganhou, uma fortuna incontável. Comprou muitas terras - todas potiguares.

Adquiriu várias propriedades rurais, dentre elas à Fazenda Ingá com mais de 11 mil hectares, onde plantava algodão e criava gado. Tornando-se uma figura legendária na região. Raul Capitão ficou tão rico que concedia entrevistas sentado em sacos de dinheiros. Com isso botou os filhos que quiseram estudar, em boas escolas e moradia na capital. Três meninas foram internas da Escola Doméstica e uma delas chegou a se formar em Geologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

RAUL CAPITÃO (PARTE I), "O CAPITÃO DO MINÉRIO POTIGUAR" MILIONÁRIO DA SHEELITA o ex agricultor Raul Capitão ficou tão rico que concedia entrevistas sentado em sacos de sua fortuna.

Personagem lendário e cheio de causos, Raul Capitão ficou milionário do dia para a noite, criou uma onça, foi condenado a 26 anos de prisão por assassinato e conseguiu acabar com a fortuna, então incalculável.

Raul Pereira da Silva. Filho de agricultores de Lajes, interior do Estado, aprendeu apenas a ler, escrever e fazer contas simples. O apelido que o identificou foi passado de geração em geração da família. É filho do segundo casamento de seu pai, Joaquim Capitão, que, por sua vez, casou com a cunhada quando ficou viúvo. A jovem foi ajudar a cuidar dos sobrinhos e "para que não ficasse mal falada" virou a esposa do dono da casa. Um dos irmãos de Raul foi cangaceiro do bando de Antônio Silvino, apelidado de "Rifle de Ouro".

A família levava uma vida simples na cidade. Raul, famoso pela honestidade e avidez, tornou-se gerente da Fazenda Amarante, que pertencia a Gonzaga Galvão, onde trabalhou por 18 anos. Foi nesse período que comprou a fazenda Bonfim, lugar do qual anos depois sairia sua fortuna.

RAUL CAPITÃO (PARTE II), "Meu pai comprou tanta terra que era possível andar de Lajes a São Tomé passando apenas por propriedades dele, mas a relação com a família nunca mudou", lembrou Maria de Fátima.

A filha lembra, no entanto, que mantiveram os mesmos hábitos simples de outrora, continuaram no mesmo lar da Bonfim e com a casa no centro da cidade. Embora com o bolso cheio, o jeito de se vestir e de se comportar conservou todas as marcas do passado pobre. Sempre andou com chapéu e um conjunto de calça e camisa de botão. O traje só mudava na hora do banho de açude, quando vestia uma bermuda e calçava os tênis "Conga". Raul também continuou como um homem de poucas palavras e só se soltava quando bebia.

Casa onde morou Raúl Capitão em Lajes RN As casas construídas em Lajes são famosas pela resistência e pelo tamanho. Construídas para a eternidade. Chegou a ser residência de prefeito do município e até hoje são pontos de destaque na cidade.

A exploração da scheelita era feita em conjunto. Quem se interessasse pelo trabalho recebia uma banqueta e depois prestava contas. A hora do pagamento era um grande acontecimento. Chegavam sacas de dinheiro, que era distribuído na fazenda Bonfim, aos olhos de todos. Nada ficava para depois, tudo era pago imediatamente pela família. O sobrinho chamado Jalmar Pereira ajudava na contabilidade. A ida de uma agência do Bandern para a cidade teve ligação direta com Capitão. Tanto dinheiro brotava do município que ele merecia um banco. E assim fez.

A fortuna gerada pela scheelita no RN atraiu a revista Realidade, de circulação nacional na década de 60. Raul foi o grande personagem da matéria e, com a sua personalidade forte, esclareceu até os "mandamentos do garimpo".

RAUL CAPITÃO (PARTE III), "MITOS x VERDADE"
Pelos excessos que cometia, muitas histórias atribuídas à Raul não passam de lendas, de acordo com a família. Outras que parecem lendas, garantem que são reais.

A onça:
Dizem que Capitão criava uma onça para prender pessoas em sua jaula como castigo. Na verdade, ele era apaixonado por bichos. Um dia foi a um circo e viu três animais passando fome: uma onça, um urubu rei e um veado. Não pensou duas vezes e levou-os para casa, onde foram cuidados até o fim. O felino, que não tinha nome, era o grande sucesso. Raul adaptou um automóvel e constantemente o levava para passear pela cidade. Não há registros de pessoas feridas pelo animal, que era considerado bastante manso, por incrível que pareça.

Queimava dinheiro:
Falam que o homem era tão rico que queimava dinheiro por brincadeira. Ele gostava muito do que a condição financeira poderia proporcionar na vida e não o desperdiçaria. Pelo contrário, aproveitou todas as notas com afinco. Os sacos, aos montes, eram vistos nos dias de pagamento, mas iam direto para os bolsos dos garimpeiros, aos sábados, além da sua própria conta bancária, claro.

O pagador de contas:
Pelo menos uma de suas principais famas segue à risca. Quando chegava aos bares e serestas, pagava a conta de todos os presentes e mandava o dono avisar: "A quem perguntar, diga que Raul Capitão já passou e pagou". Não foi autor de obras sociais, de certo nem as conhecia, porém é famoso por pagar as contas, principalmente de alimentos, de pessoas pobres. "Tá com fome? Vá lá no mercado, comida e diga que o capitão quem mandou".

Pavio curto:
Raul tem algo que lembra o famoso "Seu Lunga". Curto e grosso. Em seu último lar, na granja da BR 304, ele gostava da mesa de jantar encostada à parede e sempre sentava na mesma cadeira. Todos os dias, na hora da refeição, pela aproximação, o braço batia na parede. ao notar a cena repetitiva, um filho comentou que seria melhor afastar a mesa. Imediatamente, o patriarca respondeu: "Ninguém mexe na mesa, vou mandar abrir um buraco na parede". No outro dia, estava lá o espaço mantido até hoje. História contada e comprovada pelo neto Romero.

Exímio atirador:
O minerador atirava como ninguém. Mesmo nos últimos anos de vida, praticava o tiro ao alvo. Os netos garantem que ele pedia ao motorista para segurar uma espinha de peixe na boca e atirava certeiro, sem nunca ter errado aquele alvo.




Fonte - Cícero Lajes (historiador)

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